Discutindo o conceito de avaliação...
Discutir e analisar a avaliação significa entender o que acontece na
escola. É fundamental que toda comunidade escolar entenda o que é
avaliar.
Nesse sentido, pretendemos contribuir, no sentido de proporcionar
reflexões, acerca da realidade das escolas que geralmente trabalham
com verdades absolutas, prontas e acabadas, inclusive no que diz
respeito ao tema avaliação.
Assim, precisamos buscar a concretização do discurso que muitos de
nós conhecemos: a avaliação deve ser contínua, de forma a verificar
os vários momentos de desenvolvimento do aluno, já que a idéia é dar
ênfase também a comparação do aluno com o seu próprio
desenvolvimento, ao invés de apenas comparar o seu rendimento, em um
dado momento, com parâmetros externos a ele.
Com base em nossa experiência profissional percebemos que,
encontramos poucos educadores que consideram a avaliação como um
valioso instrumento de compreensão dos avanços, limites e
dificuldades que os educandos estão encontrando para atingir os
objetivos do curso, disciplina ou atividade da qual estão
participando.
A partir de então, estabelecemos um relacionamento com a
bibliografia que fala sobre a avaliação em diversas abordagens.
Assim, foi possível diagnosticar que a avaliação escolar é
apresentada principalmente em duas lógicas, a compreender, por um
lado a concepção de avaliação positivista (autoritária), por outro,
a concepção de avaliação crítica (emancipatória) que demonstra uma
prática que valoriza a história e o processo de cada educando.
Nos últimos anos, a avaliação da aprendizagem vem sendo objeto de
inúmeros estudos e pesquisas. Romão (1998), Luckesi (1999), Hoffmann
(1993), Vasconcellos (2000), Perrenoud (1999), dentre outros. Esses
autores apresentam alguns princípios do problema como suporte de
pesquisa, com vários enfoques de tratamento como o sócio-político, o
filosófico, o histórico-cultural e o tecnológico, ao mesmo tempo
apontam caminhos para uma avaliação dialógica, da aprendizagem,
mediadora, formativa, processual e contínua como caminho para a
prática avaliativa. Entretanto as práticas docentes, muitas vezes,
continuam reproduzindo uma avaliação tradicional que se opõe ao
campo teórico crítico emancipatório.
Segundo eles, a avaliação da aprendizagem tem como intuito
identificar as carências e primazias, situando o educador e o
educando no processo escolar. Nesse sentido, ela possibilita o
aperfeiçoamento do ensino que vem sendo desenvolvido, deixando de
ser meramente classificatória, tornando-se um trajeto capaz de levar
o aluno ao aprendizado.
Para Perrenoud (1999), a avaliação da aprendizagem é um
processo regulador sobre a individualidade de cada educando,
apontando seus limites e possibilidades. A regulação da aprendizagem
como da ação pedagógica deve possibilitar ao educador redimensionar
as trajetórias a serem percorridas desembocando numa prática
formativa.
Assim, se faz necessário uma mudança paradigmática entre a
hierarquia de excelências para uma regulação das aprendizagens
possibilitando tanto uma diferença na escolha dos conteúdos e dos
métodos avaliativos como no modo de coletar e interpretar o saber
para revigorar a prática pedagógica. Por isso, esse estudioso
ressalta que para mudar a avaliação é necessário mudar a escola.
Conforme Romão (1998),
A
Avaliação da Aprendizagem é um tipo de investigação e é, também, um
processo de conscientização sobre a “cultura primeira” do educando,
com suas potencialidades, seus limites, seus traços e seus ritmos
específicos. Ao mesmo tempo, ela propicia ao educador a revisão de
seus procedimentos e até mesmo o questionamento de sua própria
maneira de analisar a ciência e encarar o mundo. Ocorre, neste caso,
um processo de mútua educação. (p.101).
Percebemos que a avaliação do processo de aprendizagem e de
ensino, possibilita investigar e refletir sobre a ação do aluno e do
educador instigando a transformação através do contexto da sala de
aula.
De acordo com Luckesi (1999), ainda vivenciamos a “pedagogia do
exame” no contexto escolar. Ela é permeada por uma prática
autoritária, disciplinadora e classificatória que mantêm e reproduz
a sociedade hegemônica. O autor em questão defende uma avaliação da
aprendizagem pautada numa perspectiva crítico-reflexiva. Para ele, a
avaliação deve deixar de ser verificativa e se tornar diagnóstica e
processual reorientando a prática do educador a possíveis tomadas de
decisão.
Concordamos com essa posição, afinal, a avaliação só tem
significado, se possuir muito claro o objetivo, de auxiliar o aluno
no seu processo de aprendizagem.
Hoffmann (1993), também segue essa linha ao afirmar que a
avaliação é o caminho de aprendizagem do aluno, quando possibilita
ao educador tomar consciência da realidade do educando e, a partir
de então, levá-lo ao aprendizado. Essa pesquisadora confirma nossa
análise quando nos fala que a ação avaliativa mediadora se processa,
ou melhor, se desenvolve em benefício do educando e dá-se
fundamentalmente pela proximidade entre quem educa e quem é educado.
Segundo ela, a avaliação, numa perspectiva não mediadora, não
emancipatória reforça uma concepção autoritária da avaliação
enfatizando o controle, a seleção e a premiação de uma pequena
parcela dos estudantes.
A atual prática da avaliação escolar estipulou como função do ato de
avaliar a classificação e não o diagnóstico, como deveria ser
constitutivamente, como destaca Luckesi (1999):
Com a função classificatória, a avaliação constitui-se num
instrumento estático e frenador do processo de crescimento; com a
função diagnóstica, ao
contrário , ela constitui-se num momento dialético do processo de
avançar no desenvolvimento da ação, do crescimento para autonomia,
do crescimento para a competência etc. Como diagnóstica ela será ela
será um momento dialético de senso do estágio em que se está e de
sua distancia em relação á perspectiva que está colocada como ponto
á ser atingido á frente. Á função classificatória subtrai da prática
da avaliação aquilo que é constitutivo: a obrigatoriedade da tomada
de decisão quanto a ação , quando ela está avaliando uma ação
(p.35).
Assim, em uma proposta de avaliação, não podemos dar ênfase somente
as respostas certas ou erradas, mas também, e com relevada
importância, ao como um aluno chega a tais respostas, tantos as
certas quanto às erradas. Isto significa considerar que o
conhecimento produzido pelo educando, num dado momento de sua
experiência de vida, é um conhecimento em processo de superação. A
criança o jovem, aprimoram sua forma de pensar o mundo à medida que
se deparam com novas situações, novos desafios e formulam e
reformulam suas hipóteses” (HOFFMANN, 1993).
Podemos afirmar que não tem sentido a escola continuar usando a
avaliação, de forma escusa apenas como instrumento de classificação
em detrimento de outras possibilidades mais lícitas como a do
diagnóstico, por exemplo. A avaliação apenas com a função de
classificar educandos, não dando ênfase ao desenvolvimento, em pouco
ou em quase nada auxilia o crescimento deles na aprendizagem.
Percebemos que o modo como uma escola trabalha com avaliação é o
reflexo da educação que ela valoriza. Nesse sentido, essa prática,
na perspectiva de uma avaliação emancipatória, deve ser capaz de
julgar o valor do aluno e possibilitar que ele cresça como indivíduo
e como integrante de uma comunidade. E essencialmente a avaliação
deve visar à superação da exclusão.
Avaliação da aprendizagem: algumas dimensões ...
A avaliação vem sendo a nosso ver um dos grandes vilões da educação,
basta ver os elevadíssimos índices de reprovação e evasão escolar ou
ainda os efeitos de inculcação ideológica. Vasconcellos (2000),
afirma que a inculcação ideológica é um processo que visa a
conformidade dos indivíduos em seu lugar na sociedade, pelo
reconhecimento de sua desvalia, de sua incompetência (com
justificativas científicas, inclusive). É função da escola então, de
acordo com este conceito, humilhar os menos desfavorecidos,
tornando-os como fracassados escolares. Vale destacar que a educação
enquanto prática social mediadora, pode ser usado como instrumento
de exclusão, mas também de crítica e transformação.
Segundo o autor o problema maior da avaliação é seu uso como
instrumento de discriminação e seleção social, na medida que assume,
no âmbito da escola a tarefa de separar os aptos dos inaptos, os
capazes dos incapazes. E cumpre a função de legitimar o sistema
dominante. A escola deve desenvolver no educando instrumentos de
crítica do conhecimento universal acumulado, compreendendo-o não
como um conhecimento histórico que vai sendo construído, sendo ele
próprio sujeito dessa construção.
Segundo Luckesi (1999), a maioria da escola desenvolve práticas de
mera verificação e não propriamente de avaliação. Segundo o autor,
existem diferenças entre os atos de verificar e avaliar:
O
processo de verificar configura-se pela observação, obtenção,
análise e síntese de dados ou informações que delimitam o objeto ou
ato com o qual se está trabalhando” (p.92).
Já “ao ato de
avaliar implica, em coleta, análise e síntese dos dados que
configuram o objeto da avaliação, acrescido de uma atribuição de
valor ou qualidade, que se processa a partir da comparação da
configuração do objeto. O valor ou qualidade atribuídos ao objeto
conduzem a uma tomada de posição a favor ou contra o objeto, ato ou
curso de ação, a partir do valor ou qualidades atribuídos, conduz a
uma decisão nova: manter o objeto como está ou atuar sobre ele.(p.
93).
Mendes (2005) destaca os pesquisadores desta temática têm sido
unânimes em dizer que as práticas atuais são meramente de
verificação da aprendizagem de um simples ato de aplicar provas,
atribuir notas e classificar os educandos. O educador reduz a
avaliação á cobrança daquilo que o aluno memorizou e usa a nota
somente como instrumento de controle.
As escolas assim, se utilizam apenas de provas escritas como forma
de avaliar o que foi assimilado pelos educandos no decorrer do ano.
São as conhecidas semanas de provas, e que na maior parte das vezes
exige a simples memorização dos educandos. Com isso percebemos um
crescente desinteresse dos educandos pelo estudo. Como conseqüência
aumentam nas escolas os casos de indisciplina; já que as crianças
não vêem significado e nem se sentem mobilizados com aquilo que o
educador propõe. A alternativa que nós educadores encontramos diante
de tal situação, é utilizar a nota como instrumento de coerção.
Usamos então a avaliação para garantirmos a autoridade.
Vasconcellos (2000) afirma:
Tem se, portanto, um quadro dramático: de um lado o professor cheio
de boas intenções, mal preparado e com uma proposta equivocada; de
outro lado, o conjunto dos alunos, que não tem consciência do que
estão fazendo ali e não percebem o sentido daquilo que está
acontecendo. Evidentemente, a situação é explosiva; os alunos das
séries iniciais até que aceitam, mas o problema vai se complicando
nas séries seguintes. O professor se vê desorientado diante de uma
turma que rejeita aquilo que tem a oferecer. Reflete então: o erro
não está naquilo que está oferecendo; o erro não está nele; logo, o
erro só pode estar nos alunos que são desinteressados, sem base,
dispersos, indisciplinados, cada vez mais mal-educados,
irresponsáveis, etc (p.37).
Segundo Luckesi (1999), o educador utiliza se das provas escritas
como fator negativo de motivação. O estudante deverá se dedicar aos
estudos não por que os conteúdos sejam importantes, significativos e
prazerosos de serem aprendidos, mas sim por que estão ameaçados por
uma prova. O medo os levará a estudar.
Vasconcellos (2000) afirma que:
... “O problema
da avaliação é muito sério e tem raízes profundas: não é problema de
uma matéria, série, curso ou escola; é de todo um sistema social
determinado que impõe certos valores desumanos como o utilitarismo,
o consumismo, a alienação, a marginalização, valores estes que estão
incorporados em práticas sociais, cujos resultados colhemos em sala
de aula, uma vez que funcionam como”, filtros “de interpretação do
sentido da educação da avaliação (p.
14)”.
A avaliação que deveria ser acompanhamento do processo educacional
acabou tornando-se o objetivo deste processo na prática dos
educandos e da escola.
Além disso, os educandos demonstram, cotidianamente, possuírem
distúrbios físicos e emocionais quando precisam fazer as provas,
entre eles: mal-estar, dor de cabeça, tensão, medo, insônia,...
Assim, muitos educadores distorcem o sentido da avaliação, já que
dão a ela um grande destaque, usando-a como instrumento de pressão,
de controle do comportamento dos educandos.
Algumas considerações...
A avaliação escolar é hoje um grande desafio. Se a prática
avaliativa deve ser considerada como um recurso metodológico de
reorientação do processo ensino – aprendizagem, por que a escola
monta todo um clima de tensão em cima das provas?E por que o
educador precisa supervalorizar as notas para dominar a classe? Por
que os educandos estão acostumados a estudarem apenas nas vésperas
das provas? Como então transformar práticas meramente verificativas
em práticas realmente avaliativas, que acompanhe e ajude o aluno
durante o processo de aprendizagem ?
Como afirma Gadotti (1984), a avaliação é inerente e imprescindível,
durante todo o processo educativo que se realize em um constante
trabalho de ação-reflexão-ação, porque educar é fazer ato de
sujeito, é problematizar o mundo em que vivemos para superar as
contradições, comprometendo-se com esse mundo para recriá-lo
constantemente.
Dessa forma, avaliar é indispensável em toda atividade humana e,
portanto, em qualquer proposta de educação. E essa realidade
descrita vem justificar a necessidade de continuarmos discutindo e
pesquisando o tema, contribuindo de forma singela, com possíveis
modificações necessárias em nossa realidade escolar.
SILVA,
Fernanda Duarte Araújo.
Avaliação da aprendizagem: pontos e contrapontos. P@rtes (São
Paulo). V.00 p.eletrônica.
Novembro
de 2009.
Disponível
em partes.com.br/educacao/avaliacaodeaprendizagem.asp>.
Acesso em23.05.2013